segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Talvez

A Seleção Brasileira, mais uma vez, caiu nas Olimpíadas. Não, não foi para um time qualquer. Enfrentamos uma equipe mexicana coesa, habilidosa, esforçada, bem estruturada, com um padrão de jogo bem definido. Seria demasiado egocêntrico contabilizar esta derrota apenas em nossos erros. Podemos afirmar apenas que jogamos muito aquém de nossas capacidades.


Temos que considerar alguns pontos importantes:
  • Vez em quando teimamos em esquecer que não existem mais equipes inocentes. Nenhum jogo pode ser tachado como ganho, nenhum título pode ser dado como certo.
  • A Seleção Brasileira não tem mais a força de outrora no cenário internacional. Estamos em um período de renovação recheado de apostas, e nada mais do que isso.
  • A habilidade deve sim ser exaltada. Mas não tem grande valia quando não a conjugamos com a técnica, a raça, a resiliência tática e o espírito de equipe.
  • Falhas acontecem. Todo ser humano é passível de insucessos. Assim como não devemos avaliar um trabalho apenas por suas conquistas, não devemos destruir um apenas por suas falhas. O balanço é que deve falar mais alto.
Com isso na cabeça, podemos discutir o óbvio. Sabendo-se que a Seleção Olímpica é a base da Seleção Principal, recheada de talentos (em desenvolvimento, é importante destacar), e que as principais potências do esporte não obtiveram a qualificação ao torneio, o sentimento geral era a conquista do título inédito. E claro que a frustração pela perda também é grande. Temos a cultura do menosprezo, é típica do Brasileiro. Não sabemos lidar com outro resultado que não a vitória. Somos mimados. Fomos acostumados assim no futebol. Vivemos em um ambiente onde ser vice-campeão é pior que terminar em último.

Pela derrota, duas peças foram escolhidas como "Judas": Mano Menezes e Neymar. O garoto da Vila é um menino, mas carrega todo o peso de craque nacional, aquele que nos levará ao título da Copa em 2014.  Talvez seja. Talvez ele mesmo se sinta assim. Talvez... essa é a palavra certa para o momento da Seleção. Temos potencial, indiscutivelmente. Se vamos desenvolvê-lo em menos de 2 anos é uma questão complexa que vai nos levar de encontro à enigmática palavra do tema. Não gostamos de trabalhar com dúvidas. Para falar a verdade, a dúvida é culturalmente repudiada, sempre é substituída pelo novo. Prova cabalar desta verdade nacional é a constante troca de técnicos em nossos principais clubes.


De volta ao Neymar, fica evidente que ele tem muito a evoluir. De fato não fez bons jogos nas Olimpíadas.  Para o público, ficou a impressão de "firuleiro", de quem almeja apenas o avanço pessoal pela plasticidade do jogo, sem espírito de equipe. Ele não tem suporte para ser decisivo pela seleção em jogos contra grandes. Ainda. É habilidoso, raçudo, técnico... mas ainda não discerne bem sobre o meio termo destas qualidades, lhe falta o equilíbrio. Lhe falta a experiência. Como à toda nossa jovem seleção. Creio ser o principal problema o processo de transição de gerações, que não foi bem feito. Os craques do passado recente não foram bem aproveitados, e a passagem de experiência foi prejudicada, o que fatalmente atrasa a resposta do trabalho.

Mano Menezes, por sua vez, parece perder a mão nas alterações técnicas da equipe quando em situações desfavoráveis, de pressão. Por vezes desequilibra todo um setor para tentar fortalecer outro, e a equipe sente o hiato tático. Sendo mais específico, o setor de criação e armação fica deficiente. Justamente nosso principal problema. Ora, sejamos francos. Temos bons defensores, bons apoiadores, bons atacantes... Você, caro leitor, consegue pensar em pelo menos 4 fortes nomes para ocupar a meia de criação na equipe canarinho? Seja sincero... você pensa em alguém que esteja pronto, formado, para vestir a mítica camisa 10? Temos hoje os bons Oscar e Lucas, duas boas promessas. Paulo Henrique Ganso caiu de produção e não é sombra do meia que encantou o país em 2010. Kaká, o nome mais forte da lista, não vem jogando bem ou regularmente, e sequer é convocado. Ronaldinho Gaúcho já não rende o que se espera dele. A quem recorrer? Em quem pensar? Será mesmo que o grande número de volantes nos nossos times é mera escolha técnica, ou deficiência de produção?


Por mais que as escolhas técnicas e táticas do nosso comandante sejam questionáveis, nosso time é este. Mano Menezes não é mágico. O material humano disponível não supre a demanda com eficiência. É difícil de acreditar que em um país deste tamanho, completamente adaptado e apaixonado pelo esporte não tenhamos alguém pronto, mas é a nossa realidade. Não sei se a troca do treinador seria o ideal, não vejo nenhum técnico no país taticamente superior ao Mano. Temos bons nomes, mas de mesmo nível, inclusive o (agora menos) badalado Muricy Ramalho. Pela terceira vez na história teríamos um estrangeiro na beira do campo (a contar o Português Joreca em 1944, e o argentino Filipo Nuñes em 1965)?

O Presidente da CBF, José Maria Marin, e o Diretor de Seleções, Andrés Sanchez, deram mais um voto de confiança à Mano Menezes no comando da canarinho. No entanto, em entrevista concedida em Estocolmo nesta segunda-feira (13/08), Marin condicionou a permanência do técnico à boas atuações e vitórias contra Suécia, África do Sul e China, visando manter o ambiente de tranquilidade no comando e ao mesmo tempo acalmar a população no tangente à administração da entidade. Teoricamente, são adversários de menor nível. Na prática... Talvez.