segunda-feira, 26 de julho de 2010

Os Manos do Menezes


Hoje era grande a expectativa em torno da primeira coletiva de Mano Menezes no comando da Seleção. Além de ser considerado um dos 3 grandes técnicos da atualidade no futebol brasileiro (Muricy e Felipão fecham a lista), tinha uma (in)grata missão como desafio de estréia - uma convocação que demonstrasse o novo velho espírito do futebol brasileiro, tão arguido desde o início da Era Dunga e apagado no cenário nacional. E o pior - tudo em um prazo menor que 48 horas. Era a dor de cabeça que Mano queria há tempo, bastava ver sua feição durante a apresentação.

E para quem não teve tempo para avaliar todas as possibilidades, Mano agradou a gregos e troianos, convocando uma seleção que, ao menos no papel, tende a retomar o estilo ofensivo característico da Seleção Canarinho sem desguarnecer a retaguarda brasileira. Foram 24 convocados (1 deles será cortado em função do clássico Internacional x São Paulo pela Libertadores), sendo 12 domésticos e a outra metade de "estrangeiros". Remanescentes da Copa 2010, apenas 4. Para quem almejava uma renovação completa, desde a base, aí está o resultado. E agradável.

Eis a lista:

Goleiros - Renan (Avaí), Jefferson (Botafogo) e Victor (Grêmio).

Laterais - Rafael (Manchester Utd.), Daniel Alves (Barcelona), Marcelo (Real Madrid) e André Santos (Fenerbahçe).

Zagueiros - Thiago Silva (Milan), David Luiz (Benfica), Henrique (Racing Santander) e Réver (Atlético-MG).

Meias - Sandro (Internacional), Ederson (Lyon), Carlos Eduardo (Hoffenheim), Hernanes (São Paulo), Ramires (Benfica), Ganso (Santos), Lucas (Liverpool) e Jucilei (Corinthians).

Atacantes - André (Santos), Robinho (Santos), Neymar (Santos), Pato (Milan) e Diego Tardelli (Atlético-MG).

De notável na lista, a redução da média etária para 23,1 anos, e sete dos convocados estão em idade olímpica. No geral, uma convocação que atende todas as necessidades de uma Seleção ofensiva em construção. Claro que esta não é a Seleção definitiva, ainda está longe disso. Da base deixada por Dunga, Júlio César, Maicon, Kaká e Elano são nomes aguardados no decorrer das convocações. Fred (provavelmente não convocado pela lesão sofrida no Clássico Vovô) é outro nome muito cogitado para o grupo de Mano Menezes. Jovens como Giuliano (Internacional), Maikon Leite (Atlético-PR) e Maicosuel (Botafogo) tem potencial para almejar algum lugar nessa renovação. Bruno César (Corinthians) e Gum (Fluminense) estão em estado de graça e podem trabalhar visando um futuro nem tão distante. Na lista de Goleiros, incluiria como opções futuras Fernando Henrique (Fluminense) e Fábio (Cruzeiro). No entanto, com o retorno iminente de Júlio César, a disputa será por duas vagas e a coisa complica. No meio-campo, Denilson (Arsenal) merece uma oportunidade.

Quanto aos pontos positivos da lista, o entrosamento do setor ofensivo é o destaque. A escolha de Ganso, Neymar, André e Robinho não foi por acaso, e ao menos três destes devem sair no time principal. Na escolha de apoiadores e contensores de meio, Mano foi certeiro ao convocar Ederson e Hernanes. Não gostei muito da convocação de Jucilei, mas deve ficar no banco. As laterais estão (finalmente) equilibradas em bom nível, e a renovação da zaga, de início, está perfeita. No gol, a título de teste, a convocação foi muito boa (reitero que escolheria Fábio ou Fernando Henrique no lugar de Jefferson, que é inegavelmente bom goleiro).

Mantendo o 4-4-2 histórico da Seleção, imagino o time de saída com Victor; Daniel Alves, Marcelo, Thiago Silva e David Luiz; Hernanes, Ederson, Ramires e Ganso; Robinho e Neymar.

Esse time promete...

domingo, 25 de julho de 2010

A dança do Brasileirão e o novo técnico da Seleção

A Copa acabou, e o Campeonato Brasileiro voltou com tudo. Dentre os clubes, destaque para a arrancada Colorada rumo ao G4, concretizada hoje com a vitória sobre o Flamengo no Beira-Rio, e pela dança da liderança entre os bons times de Corinthians e Fluminense, com 24 e 23 pontos respectivamente. Ao que parece, vai se desenhando o pelotão de luta pelo caneco, e a estes três pré-citados juntam-se Cruzeiro e Santos.

Atual campeão, o Flamengo vai mal das pernas e precisa contratar reforços com a máxima urgência, para todos os setores do campo. Atlético-MG, Grêmio e Botafogo decepcionam, não apresentam consistência e variam muito durante seus jogos. Apesar da campanha atípica, o São Paulo deve se recuperar e lutar na parte de cima. Vasco, Atlético Paranaense e Avaí mostram certo poder de reação com a chegada de reforços, mas pelo que apresentam lutarão mesmo é pela Sul-Americana. O Palmeiras de Felipão ainda não encaixou, mas promete. Já o Vitória só estreará nessa volta do Brasileirão após a decisão da Copa do Brasil contra o Santos.

No entanto, nada chamou mais atenção que a escolha do novo técnico da Seleção penta-campeã mundial. Por alugumas horas, Muricy Ramalho foi o dono do cargo mais cobiçado do mundo. Mas que acabou mesmo na mão de Mano Menezes. Líder do Brasileirão na quinta-feira, Muricy foi abordado na saída do Maior do Mundo e aceitou o comando técnico do Brasil na sexta. No entanto, Ricardo Teixeira exigiu exclusividade, e Muricy dependia apenas da liberação do Fluminense. O Tricolor carioca não apenas não liberou, como também pronunciou, através do presidente do clube Roberto Horcades, e pelo presidente da patrocinadora, Celso Barros, que exigia exclusividade e não aceitava dividir o técnico com a Seleção. Além disso, foi anunciada a renovação de contrato de Muricy até o fim de 2012.

Desde a eleição do novo presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, CBF e Fluminense não mantém relação amistosa (a Confederação apoiava a eleição de Kléber Leite), e já era imaginado que o clube não facilitaria a vida de Ricardo Teixeira. A situação do tricolor também não era confortável. Imaginem o líder do Campeonato perder seu técnico da noite pro dia... não havia um plano B em relação ao cargo no Fluminense, e toda uma reestruturação do futebol seria comprometida com a liberação de Muricy.

Diante do impasse, a CBF engatilhou seu plano B para o comando - Mano Menezes. Ao contrário do Flu, o Corinthians não dificultou e liberou Mano para a Seleção. Em depoimento emocionado, o presidente Andrés Sanches desejou sorte à Mano e relatou a importância do técnico na retomada do orgulho corinthiano. Como, ao contrário do Fluminense, o Corinthians já previa convite à Mano, o clube também anunciou Adilson Baptista no comando do alvinegro (amelhor opção para o lugar de Mano, diga-se de passagem).


Mano Menezes, assim como Muricy Ramalho, tem o perfil para comandar a renovação canarinho. De competência comprovada, já comandou reviravoltas espetaculares, como a vitória gremista na Batalha dos Aflitos. Suas passagens por Grêmio e Corinthians dispensam qualquer cartão de apresentação. Aficcionado por treinos táticos e técnicos, é considerado por muitos como um comandante defensivista. Particularmente, eu discordo. Trata-se de um estrategista que sabe lidar com o elenco que tem na mão, e controla bem seus comandados. À revelia de Dunga, tem bom relacionamento com a imprensa e assume o cargo com status de vencedor.

Mano prioriza o toque de bola, e gosta de armar times que alternem seu estilo durante o jogo, em função do adversário e da partida. Sempre monta excelentes defesas, e gosta de criatividade no setor do meio-de-campo, cam saídas rápidas pelas laterais. A grande esperança do torcedor brasileiro, hoje, é a manutenção do sistema defensivo de Dunga com a convocação de jogadores com poder de decisão para a criação. Ricardo Teixeira disse que a nova Seleção será "mais caseira", e as especulações começaram. Amanhã tem convocação, quais serão as novas caras na Seleção mais tradicional do mundo?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Mundo é vermelho! Bem-vinda ao clube, Espanha!


A Copa acabou, e temos um campeão inédito, um novo integrante do seleto grupo de potências mundiais que vingaram: a Espanha. Pela primeira vez na história uma seleção européia conquista uma Copa do Mundo fora de seus domínios.

Tida como uma das favoritas no pré-Copa, visto a campanha vitoriosa na Euro 2008 (na época, comandada por Luis Aragonés), o período de invencibilidade (quebrado apenas na semifinal da Copa das Confederações contra a boa seleção dos EUA) e a qualidade dos selecionados pelo técnico Vicente Del Bosque, a Fúria decepcionou em sua estréia ao ser derrotada por uma Suíça retrancada - e com muita sorte. No entanto, apesar do revés, foi uma das poucas seleções a apresentar um bom volume de jogo logo na estréia. A desconfiança pairava sobre o elenco, que não conseguia traduzir em gols o amplo domínio demonstrado em campo. A vitória sobre Honduras por 2 a 0 acalmou os jogadores, que chegaram à terceira rodada do Grupo H dependendo de uma vitória sobre a desfalcada seleção chilena - 2 a 1, com direito a sufoco dos sul-americanos mesmo com um jogador a menos. Assim, a Espanha confirmava as predições e passava em primeiro no seu grupo.

O notável no grupo espanhol foi a mudança de comportamento tático. A diferença do time de Luis Aragonés para a equipe de Vicente del Bosque estava no setor de criação, e por que não dizer que na contusão de Fernando Torres. Na campeã da Euro 2008, 3 meias de criação/ofensivos (Xavi, Iniesta e Fábregas) municiando el niño e David Villa. Na seleção de 2010, Fábregas estava no banco, e a criatividade dependia das triangulações entre Villa (recuado para a meia esquerda), Xavi e Iniesta. Sem contar com seu camisa 9, visivelmente sem ritmo de jogo, a responsabilidade caía nos pés do camisa 7, que com eficiência dava conta do recado. E assim foi nas oitavas, na vitória por 1 a 0 sobre uma seleção portuguesa irreconhecível (demasiadamente defensiva, anulando o setor criativo ao isolar Cristiano Ronaldo de Tiago e Simão) e sobre um ofensivo e perigoso Paraguai nas quartas (este sim, o primeiro desafio real da Fúria na Copa 2010), pelo mesmo marcador.

A semifinal foi tratada como uma final antecipada. A Alemanha de Joachim Löw, renovada, com meio-campo habilidoso de chegada, pelas goleadas aplicadas sobre Inglaterra (4 a 1) e Argentina (4 a 0), era tratada como favorita, ainda que não como nas partidas anteriores. Com um meio campo jovem e experiente, formado por Khedira, Schweinsteiger, Özil e Müller (este a peça-chave do time, transformando o sistema de marcação num 4-4-2 clássico e mudando ofensivamente para um 4-3-2-1), a Alemanha aproveitava com eficiência as falhas ofensivas do adversários, com contra-ataques mortais. E foi justamente o melhor jogo da Fúria. Com Iniesta e Xavi em dia inspirado, a bola girava de pé em pé, até a melhor oportunidade. A espreita por erros, a Alemanha não jogava, visto a qualidade do meio-campo rubro, que pouco errava. E o iluminado Puyol, em linda testada, colocou a Espanha pela primeira vez na história na decisão do Mundial.
Após a definição da grande Final, a Espanha já era tratada como campeã. E talvez essa ansiedade tenha atrapalhado contra a Holanda, uma vez que a equipe não conseguia chegar ao ataque com eficiência. Distribuindo botinadas, a Laranja continha o ímpeto Espanhol. E Villa, isolado no ataque, não fazia grande apresentação. O jogo seguia morno (tirando, claro, as entradas violentas de ambas as partes, que só faziam esquentar o clima dentro de campo), foi para a prorrogação e a disputa por pênaltis parecia inevitável, até que o imponderável aconteceu. Após expulsão de Heitinga, no segundo tempo da prorrogação, Iniesta teve espaço e, na sua primeira grande chace do jogo, definiu o placar. Espanha campeã com méritos.
Bem-vinda ao Clube, Fúria. Título mais que merecido!


terça-feira, 6 de julho de 2010

Semifinais - Uruguai 2 x 3 Holanda - South Africa FIFA World Cup 2010

Um jogo em que se esperava mais. Das duas seleções. No geral, seguiu o que tem sido o padrão desta Copa - duas equipes estudando mais que atacando, prezando mais por não sofrer gols que por fazê-los.

A Holanda, mais uma vez, não jogou o que tem potencial. E mais uma vez ganhou. No futebol moderno, manda o resultado, e a eficiência da Laranja Mecânica é inquestionável. A criação dependia de lampejos de Sneijder, bem marcado. Robben, pela primeira vez na Copa, cortou um lance para sua direita (finalmente algum adversário marcou com eficiência a jogada mais que cantada do bom ofensivo canhoto). Kuyt, bem na partida, subia com eficiência ao ataque. Van Persie, mais uma vez, foi um espectador de luxo. A defesa oscilava bons e maus momentos, mas não comprometeu.

O Uruguai sentiu demais as ausências do capitão Lugano e de Suárez. Me atrevo a dizer que Oscar Tabárez cometeu um grave erro estratégico ao isolar Forlán no comando de ataque. Durante a Copa, Forlán teve melhor desempenho como meia ofensivo, tabelando pela esquerda com Cavani para as subidas de Suárez. Talvez Loco Abreu fosse melhor opção no comando de ataque, com Forlán e Cavani armando as jogadas. Assim, Maxi Pereira e Álvaro Pereira ficaram demasiadamente sobrecarregados nas alas, e não apresentam qualidade para superar a marcação holandesa.

Os dois primeiros gols - duas pinturas, diga-se de passagem - saíram de chutes da intermediária. O primeiro, de van Bronckhorst, inapelável para Muslera. O segundo, de Forlán, contou com falha de Stekelenburg, apesar do belíssimo petardo com efeito. Em um primeiro tempo muito estudado, o empate foi justo. E assim seguiu no segundo tempo, até o gol irregular de desempate, de Sneijder, com claro impedimento de van Persie. O Uruguai sentiu, e sofreu o que parecia ser o golpe derradeiro, em contra-ataque rápido finalizado por Robben, de cabeça, como manda o manual de todo bom centro-avante - no contrapé do goleiro, pro chão.

Com o jogo "garantido", Robben foi sacado. Tardiamente, Loco Abreu entrou no lugar de Alvaro Pereira para ser a referência de ataque, recuando Forlán. A Celeste tomou conta do jogo, mas com a derrota "assegurada", Oscar Tabárez sacou o camisa 10. Talvez seu pior movimento no jogo. Aos 47 do segundo tempo, Maxi Pereira anotou o segundo gol e a equipe laranja entrou em desespero visto a possibilidade de sofrer o empate. O Uruguai foi pra cima, mas faltava a qualidade do atacante do Atlético de Madrid, que no banco nada podia fazer. Muita pressão e nenhuma precisão uruguaia até quase 50 minutos, e festa européia na Cidade do Cabo.