segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Talvez

A Seleção Brasileira, mais uma vez, caiu nas Olimpíadas. Não, não foi para um time qualquer. Enfrentamos uma equipe mexicana coesa, habilidosa, esforçada, bem estruturada, com um padrão de jogo bem definido. Seria demasiado egocêntrico contabilizar esta derrota apenas em nossos erros. Podemos afirmar apenas que jogamos muito aquém de nossas capacidades.


Temos que considerar alguns pontos importantes:
  • Vez em quando teimamos em esquecer que não existem mais equipes inocentes. Nenhum jogo pode ser tachado como ganho, nenhum título pode ser dado como certo.
  • A Seleção Brasileira não tem mais a força de outrora no cenário internacional. Estamos em um período de renovação recheado de apostas, e nada mais do que isso.
  • A habilidade deve sim ser exaltada. Mas não tem grande valia quando não a conjugamos com a técnica, a raça, a resiliência tática e o espírito de equipe.
  • Falhas acontecem. Todo ser humano é passível de insucessos. Assim como não devemos avaliar um trabalho apenas por suas conquistas, não devemos destruir um apenas por suas falhas. O balanço é que deve falar mais alto.
Com isso na cabeça, podemos discutir o óbvio. Sabendo-se que a Seleção Olímpica é a base da Seleção Principal, recheada de talentos (em desenvolvimento, é importante destacar), e que as principais potências do esporte não obtiveram a qualificação ao torneio, o sentimento geral era a conquista do título inédito. E claro que a frustração pela perda também é grande. Temos a cultura do menosprezo, é típica do Brasileiro. Não sabemos lidar com outro resultado que não a vitória. Somos mimados. Fomos acostumados assim no futebol. Vivemos em um ambiente onde ser vice-campeão é pior que terminar em último.

Pela derrota, duas peças foram escolhidas como "Judas": Mano Menezes e Neymar. O garoto da Vila é um menino, mas carrega todo o peso de craque nacional, aquele que nos levará ao título da Copa em 2014.  Talvez seja. Talvez ele mesmo se sinta assim. Talvez... essa é a palavra certa para o momento da Seleção. Temos potencial, indiscutivelmente. Se vamos desenvolvê-lo em menos de 2 anos é uma questão complexa que vai nos levar de encontro à enigmática palavra do tema. Não gostamos de trabalhar com dúvidas. Para falar a verdade, a dúvida é culturalmente repudiada, sempre é substituída pelo novo. Prova cabalar desta verdade nacional é a constante troca de técnicos em nossos principais clubes.


De volta ao Neymar, fica evidente que ele tem muito a evoluir. De fato não fez bons jogos nas Olimpíadas.  Para o público, ficou a impressão de "firuleiro", de quem almeja apenas o avanço pessoal pela plasticidade do jogo, sem espírito de equipe. Ele não tem suporte para ser decisivo pela seleção em jogos contra grandes. Ainda. É habilidoso, raçudo, técnico... mas ainda não discerne bem sobre o meio termo destas qualidades, lhe falta o equilíbrio. Lhe falta a experiência. Como à toda nossa jovem seleção. Creio ser o principal problema o processo de transição de gerações, que não foi bem feito. Os craques do passado recente não foram bem aproveitados, e a passagem de experiência foi prejudicada, o que fatalmente atrasa a resposta do trabalho.

Mano Menezes, por sua vez, parece perder a mão nas alterações técnicas da equipe quando em situações desfavoráveis, de pressão. Por vezes desequilibra todo um setor para tentar fortalecer outro, e a equipe sente o hiato tático. Sendo mais específico, o setor de criação e armação fica deficiente. Justamente nosso principal problema. Ora, sejamos francos. Temos bons defensores, bons apoiadores, bons atacantes... Você, caro leitor, consegue pensar em pelo menos 4 fortes nomes para ocupar a meia de criação na equipe canarinho? Seja sincero... você pensa em alguém que esteja pronto, formado, para vestir a mítica camisa 10? Temos hoje os bons Oscar e Lucas, duas boas promessas. Paulo Henrique Ganso caiu de produção e não é sombra do meia que encantou o país em 2010. Kaká, o nome mais forte da lista, não vem jogando bem ou regularmente, e sequer é convocado. Ronaldinho Gaúcho já não rende o que se espera dele. A quem recorrer? Em quem pensar? Será mesmo que o grande número de volantes nos nossos times é mera escolha técnica, ou deficiência de produção?


Por mais que as escolhas técnicas e táticas do nosso comandante sejam questionáveis, nosso time é este. Mano Menezes não é mágico. O material humano disponível não supre a demanda com eficiência. É difícil de acreditar que em um país deste tamanho, completamente adaptado e apaixonado pelo esporte não tenhamos alguém pronto, mas é a nossa realidade. Não sei se a troca do treinador seria o ideal, não vejo nenhum técnico no país taticamente superior ao Mano. Temos bons nomes, mas de mesmo nível, inclusive o (agora menos) badalado Muricy Ramalho. Pela terceira vez na história teríamos um estrangeiro na beira do campo (a contar o Português Joreca em 1944, e o argentino Filipo Nuñes em 1965)?

O Presidente da CBF, José Maria Marin, e o Diretor de Seleções, Andrés Sanchez, deram mais um voto de confiança à Mano Menezes no comando da canarinho. No entanto, em entrevista concedida em Estocolmo nesta segunda-feira (13/08), Marin condicionou a permanência do técnico à boas atuações e vitórias contra Suécia, África do Sul e China, visando manter o ambiente de tranquilidade no comando e ao mesmo tempo acalmar a população no tangente à administração da entidade. Teoricamente, são adversários de menor nível. Na prática... Talvez.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Seleção Brasileira

Desde a apresentação de Mano no comando técnico da Seleção, muita expectativa foi criada pelo desempenho que as equipes montadas pelo gaúcho de Passo Sobrado apresentavam, com absoluto destaque para as campanhas e títulos conquistados com Grêmio e Corinthians. Um estilo conservador na montagem da defesa, mas que permitia subidas ofensivas volumosas pelos flancos e utilizando como trunfos a chegada dos volantes pelo meio, armando ou até mesmo finalizando a gol. Aliás, a polivalência dos volantes sempre foi uma característica dos times de Mano, embora não uma exclusividade, visto que o futebol contemporâneo exige que os jogadores saibam cumprir várias funções para suportar eventuais mudanças táticas durante os jogos, evitando queimas desnecessárias no número de substituições.

Com um início animador na era pós-Dunga, Mano está há um ano e meio na Seleção e ainda não encontrou um padrão de jogo. Embora utilize frequentemente o 4-4-2, já testou o 4-5-1 e o 4-4-3 na formação inicial. Sem sucesso. A Seleção teve desempenho pífio na Copa América, não ganhou das chamadas grandes em nenhum dos jogos disputados e, para aliviar a pressão, voltou a jogar contra pequenos e médios sem expressão. Junta daqui e dali, e o que vemos é mais uma queda no Ranking de Seleções da FIFA, agora para 7°.

Claro que não é justo jogar toda a culpa encima do técnico. Além de deselegante, seria de uma tolice sem tamanho. Fato é que o processo de renovação da Canarinho é complicado, a nova geração de jogadores ainda está crua. Em destaque, só mesmo Neymar, que subiu consideravelmente de produção. Paulo Henrique Ganso, Lucas, Oscar... temos uma safra interessante de promessas. Enxergar além disso é leviano e ufanista. Some isto ao fato dos craques de outrora simplesmente caírem de rendimento e não conseguirem voltar a um destaque real e temos a nossa Seleção. Sim, porque depender de lampejos durante os jogos definitivamente não condiz com a tradição da camisa mais vitoriosa do futebol mundial.

Bem medido e bem pesado, Mano Menezes tem um sério problema nas mãos. É criticado por não ter uma base, é criticado por não selecionar jogadores de destaque, é criticado por não convocar os craques... fato é que nunca há de se ter a opinião pública completamente ao seu lado, e isso vale para toda e qualquer pessoa... ainda mais para o selecionador nacional do Brasil.

Mano prometeu, recentemente, acabar com o festival de testes e convocar a Seleção com uma base fixa, "à vera". Oras, mas é uma boa notícia não?!
Depende... se a base tem Rafael (Santos), Alex Sandro (Porto), Fernandinho (Shakhtar), Jonas (Valencia), dentre outros nomes, eu começo a me preocupar. Se o técnico fala que o grande projeto para a Copa de 2014, em casa, é Ronaldinho Gaúcho... eu começo a crer que a Seleção realmente não jogará no Maracanã.


Não quero dizer que Ronaldinho não tenha espaço na seleção ou que não possa decidir um jogo, absolutamente. Ele pode - e deve - ser usado no processo de renovação. Ele tem espaço na atual Seleção. Mas taxá-lo de grande projeto para 2014 é um baita eufemismo. Talvez tão grande quanto o atual plantel. Não quero aqui desmerecer ninguém, longe disso. Apenas creio que existem melhores opções à disposição, que não foram chamadas ou foram subutilizadas.

Indo diretamente à convocação, nomes como Júlio César (Inter), Daniel Alves (Barcelona), Marcelo (Real Madrid), Dedé (Vasco), Thiago Silva (Milan), David Luiz (Chelsea), Hernanes (Lazio), Sandro (Tottenham), Lucas (São Paulo), Neymar (Santos), Ronaldinho (Flamengo), Hulk (Porto) e Leandro Damião (Internacional) condizem com o que temos de melhor no momento. No papel, estamos aquém de potências globais como Alemanha e Espanha, mas temos algum potencial de crescimento. Apostas na recuperação de Paulo Henrique Ganso (Santos) e no futebol pragmático de Elias (Sporting), Adriano (Barcelona) e Jonas (Valencia) podem ser consideradas, embora tenhamos opções muito mais interessantes no mercado, tanto no país como na Europa.

Para fechar te faço um desafio. Tente explicar a convocação dos outros nomes da lista de forma coerente. Essa vale um bombom!

Abraço!


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Olhar do Torcedor: Épico - por Adalberto Vargas


O dia 27/07 ficará para sempre na memória dos rubro-negros. Se o calendário da nação já é repleto de feriados, acaba de ganhar mais um.
Não foi uma conquista de título como em certo 13/12, que por sinal, há 30 anos o Flamengo conquistava o mundo. Também – ou esperaremos muito para saber – não foi nascimento de um ídolo, como se comemora em 03 de março, O Natal do flamenguista. Sendo assim, qual a razão do dia 27 de julho ser tão importante? Vejamos:

12ª rodada do brasileirão 2011. De um lado o badalado e enfim completo Santos, com o trio da Seleção, Neymar, Ganso e Elano. Do outro, o invicto, mas contestado Flamengo, de R10 e Thiago Neves. Todos os ingressos vendidos e mais de 13 mil pessoas se acotovelavam na Vila Belmiro.
A novela da Bruna Surfistinha mal havia acabado e o Santos já abria o placar. Aos 4’ Borges recebeu a bola de Elano entre os marcadores do Fla e com tranqüilidade empurra para o fundo da rede. A primeira pixotada do zagueiro Wellington, ou segunda, se você considerar que antes dos 30seg de partida ele já havia cometido falta em Ganso. Nesse instante lembrei do meu #CartolaFC, já que tinha Júnior César, e 5 pontinhos já eram.
O Fla tentava alguma coisa, mas eficiente mesmo era o Santos, e aos 16’, depois de um passe errado de Renato no meio campo, Ganso encontra Neymar, que depois de não conseguir vencer Felipe, acha uma maneira para tocar para o livre Borges ampliar. Aos 26’, o endiabrado Neymar fez o que quis com a defesa rubro-negra, dando um drible antológico em Angelim e marcando um gol de placa, fazendo a Vila, em júbilo, aplaudir de pé. Pela primeira vez em toda minha história de torcedor do Flamengo rezei para que a goleada não fosse lendária. Pensei que o Mengão fosse levar uma surra nunca antes vista. Fui um infiel, e me envergonho disso.
Com dois gols rápidos, aos 28’ com Ronaldinho e aos 31’ com Thiago Neves, o Doutrinador Máster Terra e Mar voltou para o jogo. Só que Neymar voltou a aprontar das suas, invadiu a área e foi “derrubado” por Willians. Um pênalti duvidoso, mas tava marcado, e Elano assumia a responsabilidade. Queria apagar sua cobrança bizarra na Copa América, mas conseguiu ser ainda pior. Numa tentativa desastrosa de dar uma cavadinha, viu o goleiro Felipe fazer embaixadinhas depois do pênalti defendido. Os santistas, que já esperavam por uma goleada histórica do seu time, se preocuparam, e vaiaram muito seu meio campista.
Aos 43’ o inimaginável: Deivid, que já havia perdido uma chance à lá Wellington (da Luxus), digna do Inacreditável FC, empatou de cabeça após escanteio.
Com o apito final da 1ª etapa o placar mostrava um placar atípico, 3x3.
Veio o segundo tempo, e trouxe com ele o moleque de moicano ainda inspirado, e aos 5’ desempatou, deixando o Santos mais uma vez à frente, e o 1º tempo parecia que iria se repetir. Que saudade me deu do Airton para “dar uma no meio dele”, ou quem sabe do Anselmo? Mario Soto do Cobreloa nunca vai esquecer, mas nesse jogo não tinha espaço para deslealdade.
Por tudo que já havia acontecido, perder aquele jogo por 4x3 seria uma covardia, e o Mengão Invictus “foi pra dentro”. Aos 22’ R10, o ShowMan, mostrou toda sua categoria. Depois de firular na entrada da área foi derrubado. Na cobrança da falta, quando todos esperavam uma bola por cima, colocada, ele surpreendeu com uma batida rasteira e certeira; 4x4, e nessa altura eu já havia acordado toda a vizinhança, que incrivelmente é da arcoirizada mal vestida.
Se passaram 14 minutos. Quando aos 36’ R10, maestral desempatou depois de um contra-ataque. Me senti o próprio Capitão Caverna, e quase me joguei do 3º andar; 5x4. Quem poderia imaginar? E os 12 minutos que esperamos até o apito final pareceram toda uma Copa do Mundo, mas no fim, doutrinamos, heróicos.

Antes dessa partida eu me queixava com Deus por não ter tido a sorte do meu pai, que aos 20 anos viu o Mengão Fuderosão imperar no Japão e no Mundo. Como eu queria ter nascido para ter visto o Flamengo da década de 80. Não vi, mas, salvo as devidas proporções, pude ver um Flamengo e Santos, que mesmo não decidindo um brasileirão como o fizeram em 1983, degladiaram-se em uma partida que sempre será lembrada, não só por rubro-negros ou alvinegros, mas por todos os amantes do futebol.

E eu, só quero agora cantar ao mundo inteiro a alegria de ser rubro-negro. E como deve ser triste não ser Flamengo!

Adalberto Vargas é colaborador da coluna, rubro-negro fanático de Pancas (ES), publicando crônicas "quando dá na telha".

domingo, 17 de julho de 2011

Copa América 2011 - Análise das Quartas de Final


A zebra correu solta em solo argentino neste fim de semana. Dos favoritos, apenas lembranças. Todos rumam às suas casas, provavelmente se perguntando sobre o ocorrido. Justiça? Mas o que á a justiça em um jogo onde o que vale é a bola na rede? Provavelmente os amantes do pragmatismo defensivo estão radiantes de euforia. Os tempos definitivamente mudaram. Mas será que é por aí mesmo?

Competições no formato “copa” não permitem erros na fase de definição, no mata-mata. É um estilo completamente diferente dos pontos corridos, onde a equipe tem tempo para tentar a recuperação. E por isso é mais emocionante, mais quente. O dia de um jogador pode ditar (e muitas vezes o faz) o destino de uma equipe. Rivalidade, tensão, apreensão, euforia, tristeza... tudo vai à tona de forma mais intensa, mais explosiva. E o sul-americano é o retrato maior deste estilo, é a preferência do continente. Competições européias são muito mais vistosas no fator qualitativo, mas a paixão do sul-americano pelo futebol é inegável e insuperável.

Voltando à Copa América. Vejam... à exceção do clássico do Rio da Prata, onde apontar um favorito era demasiadamente ufanista, Colômbia, Brasil e Chile eram amplos favoritos, tinham um time mais qualificado. Tinham? Pensemos... Percebam que não é uma questão de depreciação ao futebol alheio, afinal de contas não existem mais “sacos de pancada” como antigamente. Cada vez mais internacional, o mercado do futebol abriu fronteiras e culturas, e muitas escolas clássicas não são mais unânimes ou exclusivas. Todas as Seleções contam com bons jogadores, que atuam em grandes clubes da Europa e da América do Sul, com experiência em momentos de decisão e capacidade de definição. A universalização do esporte minimizou diferenças e quebrou barreiras.

Primeiro o caso colombiano. No papel e em condições normais, tem uma equipe mais qualificada que a peruana. No jogo, ditou o ritmo. Embora o Peru seja montado com um bom sistema defensivo, com toda a classe de Vargas pelo meio e a velocidade do sempre perigoso Guerrero, la Tricolor chegava em velocidade quando queria, principalmente com Moreno, Guarín e Gutierrez, levando perigo. Duas bolas na trave e um pênalti perdido em tarde completamente infeliz de Falcao García. De tanto correr e tentar sem sorte na finalização, a Colômbia cansou. Foi a receita para o Peru, que contando com duas falhas grotescas do goleiro Martínez matou o jogo na prorrogação, na base do contra-ataque. Ganhou na inteligência e no respeito às ordens táticas do surpreendente Sergio Markarián. E contando com a sorte, por que não?!



No grande clássico da rodada, alguns pontos a destacar. Primeiro e mais claro – a zaga argentina é péssima, e a equipe paga por isso. Não ganhou sequer uma jogada aérea dos uruguaios, que usaram e abusaram deste esquema; Segundo – depende demais de Lionel Messi, o que não chega a ser um absurdo (afinal, é o melhor do mundo com sobras), mas é um fator que precisa ser minimizado com urgência; Terceiro – não saber aproveitar um jogador a mais em campo por mais de 45 minutos é um pecado que pode ser fatal (como foi). A Argentina foi melhor que o Uruguai no jogo, inegavelmente. E, por incrível que pareça, a expulsão de Pérez determinou uma mudança tática na equipe celeste que foi determinante para segurar o resultado – Forlán recuado, armando como um meia avançado, com investidas rápidas de Suárez. A velha garra charrúa foi notável e brilhante. O Uruguai inchou em campo, e a Argentina apequinou. A alviceleste tinha o domínio da pelota, mas não era capaz de transpor a barreira Muslera em noite de consagração. Os contra-ataques uruguaios eram devastadores, o que não deixavam Sergio Batista à vontade para jogar sua equipe ao ataque. As modificações pontuais de Oscar Tabárez, no entanto, eram precisas e funcionais. No fim das contas, Muslera definiu a classificação uruguaia no desempate por penais, no melhor jogo da competição até então.



Na reedição do duelo da primeira fase, mudança de papéis. Se a equipe guarani buscou a vitória mais intensamente e com maior qualidade no primeiro jogo, o Brasil mandou no segundo. Prova é o número de finalizações paraguaias – 3 em 120 minutos de partida. O massacre brasileiro se deve, em muito, pelo recuo de Robinho para a meia avançada, papel que o mesmo desempenhava no Santos de 2002. Seguro e objetivo, foi disparado o melhor da equipe canarinho hoje, com passes precisos, dribles certeiros e um grande número de assistências. Ganso, bem marcado, começou a aparecer no decorrer do jogo, com o cansaço dos marcadores paraguaios. Neymar, embora continue preciosista, jogou mais para o time. Pato buscava espaços na área, e furtivamente os encontrava. No melhor jogo da Seleção nesta Copa América, a bola não entrou. Enquanto Gerardo Martino mexia no time para evitar expulsões eminentes, Mano Menezes mexia mal. Inspirado e com sorte, Justo Villar foi o nome da partida, salvando a meta paraguaia em pelo menos três oportunidades claras. Quanto aos pênaltis perdidos... melhor não comentar.



Fechando a rodada, um jogo histórico. O melhor time da primeira fase contra a maior zebra da competição. Dá gosto ver este brioso time venezuelano jogar. Um time bem treinado, bem postado, que conhece suas (grandes) limitações e suas qualidades, e que sabe fazer uso destas como ninguém nesta competição. Logo no início, na bola parada, abriu o placar e soube conduzir o jogo. A seleção chilena sentiu o golpe e não conseguiu ditar o ritmo do primeiro tempo, como esperado. A entrada de Valdivia na segunda metade foi fundamental para o domínio da equipe de Claudio Borghi, que dominou o campo de forma completa e irrestrita. A pressão foi enorme, com dois petardos na trave, boas jogadas e obrigando o experiente Vega a trabalhar. O gol foi conseqüência. Mas afoita em busca da virada, a equipe rubro-azul cedeu o contra-ataque à consciente (e sortuda) seleção vinho tinto, que reequilibrou a partida e passou à frente no marcador novamente na bola parada, com Cichero (em falha de Claudio Bravo), que ainda evitou dois gols chilenos encima da linha. O baque do feito venezuelano, aliado a um erro de arbitragem ao invalidar gol legal de Sanchez aos 43’, decretaram a derrocada chilena e, conseqüentemente, a primeira vez da Venezuela em semifinais de Copa América.



sexta-feira, 15 de julho de 2011

Copa América 2011 - Palpites rápidos para as quartas!




Neste momento, é impossível chutar um franco favorito. A tendência é termos mais um Argentina x Brasil na grande final, mas Colômbia e Paraguai e Chile (a equipe mais interessante desta Copa América) podem aprontar. Apesar da tradição, não creio que o Uruguai elimine a Argentina amanhã.

No primeiro confronto, entre duas equipes classicamente armadas para jogar no contra-ataque, Falcão García e cia são favoritos diante de uma boa seleção do Peru, que vai dar muito trabalho. Se entrar com seu trio ofensivo (Yotún, Vargas e Guerrero) em dia e inspirado, a seleção peruana pode surpreender nos contra-ataques rápidos e jogadas de bola parada. Mas a estrela de Falcão García tem brilhado na Copa América, e a formação colombiana em um falso 4-5-1 engana, virando um 4-3-3 em momentos de ataque puxados principalmente por Sánchez e Moreno, e vai funcionando com perfeição. Se inaugurar o marcador ainda no primeiro tempo, a Colômbia dificilmente perde a vaga nas semis.

Na Copa do Mundo, ficou provado que o Uruguai joga melhor quando Forlán é recuado, com Cavani e Suárez no ataque. Não me perguntem por que Oscar Tabárez abandonou essa formação desde então. Fato é que, com a formação atual, a Argentina vencerá o jogo. Se o Uruguai quiser complicar, deve agredir, partir para o ataque de forma consciente, explorando os inúmeros pontos fracos da defesa Argentina. Forlán não agüenta dar muitos piques durante o jogo, mas sua visão de espaço e deslocamento são fenomenais, e seus passes podem ser decisivos em uma surpresa uruguaia. Isso porque Sergio Batista encontrou sua formação “ideal” no último confronto, com Messi livre pela meia de ataque municiando Kun Agüero e Higuaín (ou Carlitos Tevez), e com certeza irá repetí-la diante da celeste. Mas como demorou para perceberem que o Messi ideal na seleção é o armador, e não o finalizador... a Argentina tem o melhor plantel do mundo quando o assunto e formação de ataque, faltava apenas fazer com que a bola chegasse até ele de forma eficiente e constante.

Brasil e Paraguai irão travar o duelo mais acirrado desta fase. No primeiro confronto, a seleção guarani não levou os três pontos por mera falta de zelo nos minutos finais, quando Fred empatou. Lucas Barrios e Roque Santa Cruz formam uma dupla de ataque interessante, mesmo com características semelhantes. Vera marca bem, e as subidas de Ortigoza, Riveros e Estigarribia infernizaram a defesa brasileira nas costas de Daniel Alves. Novamente a marcação será adiantada, e o esquema tático será idêntico. No entanto, a entrada de Maicon no lugar de Daniel Alves por si só dá mais serenidade à armação de jogadas pelo setor direito. Neymar e Ganso continuam devendo bastante. Coincidência ou não, Robinho cortou o cabelo e voltou a apresentar um bom futebol, e Alexandre Pato está voando. Com a formação-base que venceu o Equador, mesmo com os vacilos defensivos (a carga não pode ser total nas costas de Júlio César em uma defesa que não se encontra há mais de um ano), creio que o Brasil passará de fase.

Fechando as quartas, Chile e Venezuela se enfrentam em estilos que encaixam. O Chile de Cláudio Borghi é altamente ofensivo, busca o domínio de bola, agride o adversário com constância, principalmente nas investidas de Suazo e Sánchez, com Beausejour e Isla fazendo boas jogadas de linha de fundo e Jiménez organizando a distribuição, num 3-4-1-2 bem organizado. Trata-se de uma equipe que cria muito, e a única que merecia 100% de aproveitamento na primeira fase da competição. Daí seu amplo favoritismo no duelo. De forma interessante, a seleção vinotinto joga melhor quando Fedor e Maldonado saem do banco, dando maior mobilidade ao setor de ataque nos contra-ataques rápidos, com Arsimendi e Rincón organizando as jogadas laterais, que sempre caem pelo meio. A diferença está em Fedor, que está acertando tudo de fora da área na competição, e já guardou dois golaços assim. Pode surpreender o Chile nos contra-ataques justamente desta forma. De certo é que será um excelente jogo e, como já vimos, tudo pode acontecer com esta nova Venezuela.

E então, quem passa de fase? Quem leva o caneco?

Será que a zebra vai passear na Argentina neste fim de semana?

Vale tudo pela taça!

Copa América 2011 - Fase de Grupos


A Copa América começou em território argentino. Muita rivalidade e tradição em jogo na segunda competição continental de seleções do mundo. E muito a melhorar também, começando pela qualidade dos estádios de nossos vizinhos (que, diga-se de passagem, não está tão aquém assim dos nossos).

Pelo Grupo A, uma bela surpresa – a seleção da Colômbia. Desde a temida geração de 1990-1994, que contava com Rincón, Valderrama, Asprilla, Higuita e cia e não levou um título de expressão por má gerência na política nacional e na Federação (coisa que só veio com a Copa América de 2001, na própria Colômbia), la Tricolor não apresentava um futebol tão interessante. Não chega a ser brilhante como em 1993 (visando a goleada histórica de 5 a 0 na Argentina em pleno Monumental de Nuñez, a maior da história da alviceleste), mas está em processo de evolução e conta com material humano para tal. A Argentina demorou para estrear de fato, o que aconteceu contra a Costa Rica sub-23, em belíssima atuação de Lionel Messi e Sergio Agüero. A Bolívia, mesmo com o surpreendente empate na estréia contra os anfitriões, foi decepcionante. E da Costa Rica sub-23 não se esperava muito, mesmo surpreendendo a fraca Bolívia em 2 x 0. A pergunta que fica é: e se a convidada fosse a equipe principal da Espanha, que se ofereceu prontamente frente ao problema do Japão?!

No Grupo B, o futebol venezuelano ganha destaque. Mesmo sem contar com nenhum jogador do atual campeão nacional (Deportivo Táchira), Fedor e cia demonstram que não existem mais seleções “inocentes” no futebol, e conquistaram um surpreendente segundo lugar, atrás do Brasil apenas no saldo de gols. Brasil e Paraguai, os favoritos do grupo, demoraram em engrenar na Copa América. Mesmo com a vitória de 4 x 2 sobre o Equador, o futebol brasileiro está em débito e não convence. Apesar do terceiro lugar e classificação dramática para a segunda fase, Lucas Barrios e cia apresentaram o melhor futebol como equipe deste grupo, e não asseguraram o primeiro lugar por displicência da equipe nos minutos finais das partidas contra Brasil e Venezuela, perdendo pontos valiosos. A seleção equatoriana, por sua vez, está em decadência desde as Eliminatórias da Copa em 2009 e começa o processo de renovação da equipe principal.

No Grupo C, os “embalos de sábado à noite” desestruturaram a base da seleção mexicana, que contou com sua equipe sub-23 no torneio, devolvendo oito atletas à América do Norte antes mesmo da estréia no torneio. Com fatores extra-campo deste nível sobre uma equipe de base, não é de admirar a pior campanha da seleção mexicana na história do torneio. Os demais asseguraram classificação relativamente tranqüila. Ao contrário do que se imaginava, o Uruguai não é sombra da equipe que sobressaiu na Copa da África no ano passado, e passou por apuros até mesmo no jogo contra o México. O melhor desempenho do grupo ficou com os chilenos, que apresentaram o mesmo futebol ofensivo da Copa passada, mas com algumas mudanças pontuais na defesa, sempre problemática na era Bielsa. A equipe peruana apresentou uma evolução significativa em relação às Eliminatórias de 2009, mas depende demais de Guerrero.

As quartas de final estão definidas:

Colômbia x Peru – Sábado, 16:00 h (Córdoba)

Argentina x Uruguai – Sábado, 19:15 h (Santa Fé)

Brasil x Paraguai – Domingo, 16:00 h (Ciudad de La Plata)

Chile x Venezuela – Domingo, 19:15 h (San Juan)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Um novo calendário para o futebol

Acabaram os Estaduais no país do futebol. Mas hoje o post não retratará a alegria dos campeões ou a melancolia dos vices.

Vivemos em uma sociedade onde o tempo se esvai. Isso se aplica ao futebol, especialmente ao brasileiro. Os Estaduais, campeonatos de grande tradição e rivalidade, são hoje tachados apenas como estorvos de calendário, competições que muitas vezes atrapalham o rendimento de determinadas equipes no ano. Se formos analisar friamente, a acusação tem fundamento. Somos o único país do mundo a organizar campeonatos neste modelo, nosso calendário está inchado e não seguimos a padronização européia e, recentemente, sul-americana! Então vem a pergunta... dá pra continuar?

A questão não é tão simples como parece. Não podemos esquecer que a CBF está sob gerência da CONMEBOL, e seu calendário deve comportar as competições sul-americanas de clubes. Isto interfere especialmente na Copa do Brasil, onde os clubes participantes da Libertadores, a princípio os melhores do país, são vetados... por falta de espaço no calendário! As duas competições são simultâneas. Culpa da CBF? Não...

Por que a CONMEBOL, tal como a UEFA, não alinha as Copas Libertadores e Sul-Americana? Hoje, a segunda competição do continente é completamente desvalorizada, e sua serventia assegura apenas a vaga do campeão na Libertadores do ano seguinte. Nenhum clube se importa de fato com a Recopa continental. O alinhamento das competições permite a mudança das regras da Sul-Americana, onde os eliminados com melhor rendimento da Libertadores seriam aproveitados, de forma semelhante à Liga Europa. Marketing, estrutura, tradição... a CONMEBOL tem tudo para elevar suas competições a um patamar maior, e não o faz. Qual o papel do Dr. Nicolas Leoz afinal? É impossível que nenhuma das grandes cabeças da confederação tenha pensado nisso. Falta de boa vontade? Por que?

Voltando ao futebol nacional... nós ficamos emperrados por conta da própria CONMEBOL. Como melhorar o calendário interno seguindo o padrão antiquado da Confederação Sul-Americana? O simples alinhamento da Libertadores com a Sul-Americana resolveria o problema do apertado calendário de futebol no país. Principalmente na Copa do Brasil, que ficaria ainda mais acirrada caso tivéssemos o segundo semestre inteiro para dividí-la com o nacional, tal como ocorre na Inglaterra, Espanha, Itália, França, Holanda, Alemanha, dentre outros. Um semestre dedicado às Copas continentais, outro dedicado aos campeonatos nacionais. Uma alteração de credibilidade e qualidade.


A proposta é simples, como vocês podem ver no quadro acima. Os Estaduais com início mantido para o meio de Janeiro e fim em maio, como atualmente; e as competições Sul-Americanas começando entre Janeiro e Fevereiro, com finais no início de Julho (calendário atual da Libertadores). Como Libertadores e Sul-Americana já foram disputadas no primeiro semestre, o segundo tem espaço para acolher a Copa do Brasil, com a participação de TODOS os grandes times do país. O calendário do Campeonato Brasileiro segue inalterado. Essas mudanças possibilitam ainda a criação de uma nova competição, tradicional em países europeus - a super-copa nacional, disputada entre os campeões do campeonato nacional e da copa nacional do ano anterior. A Recopa Sul-Americana, por motivos óbvios, passaria a ser disputada no fim do ano, antes do início do Mundial de Clubes da FIFA de Dezembro.

Percebam... o calendário básico não mudou, foi apenas reorganizado. Este formato valoriza TODAS as competições disputadas, sem sobrecargas (isso contando, claro, com a quantidade de jogos que os clubes brasileiros diputam por temporada atualmente). No entanto, para uma melhor preparação dos clubes, contando com pré-temporada e calendário folgado, os Estaduais devem ser banidos, e o Campeonato Brasileiro ter duração de 10 meses, e não de apenas 7 como é hoje.

Chegamos a uma nova e importante questão... afinal, quanto vale um Estadual?
Acabar ou melhorar? Eis a questão...